"Sou do tempo que se gostava de correr e não de corrida (Raimundo Bentes)".
Por Erivelton Bento
Refletindo sobre esta frase de um corredor "das antigas", fui aguçando lembranças de quando ainda era adolescente e comecei meus primeiros quilômetros na calçada da Praia da Bica, nos meados da década de 90. Corria descompromissado com qualquer coisa, nada me incomodava, não usava relógio, tão pouco sabia a distância que estava percorrendo, a única coisa que me importava era dar as quatro voltas pela orla da praia onde morava, sempre em um ritmo confortável, hoje sei que este percurso são de 4 milhas (6,4 km). Fazia isto como uma terapia, outras vezes como aquecimento para uma pelada que acontecia na areia (beach soccer) naquela época eu não tinha informações sobre provas de corridas de rua, para ser sincero tinha curiosidade de participar de alguma, porém era dedicado a outro esporte. Quando vi um vizinho voltando de uma prova de corrida que acontecia tradicionalmente nos anos 90 em 1º de maio (Corrida do trabalhador – Candelária x Ilha do Gov. - 21 km), dei graças a Deus de não ter participado. Este vizinho, naquele tempo tinha uma vida esportiva ativa, pois todos os dias jogava futebol, diga-se de passagem, tinha um bom chute de canhota e muita habilidade, porém não era o suficiente para encarar uma meia maratona sem nunca ter treinado e assim acompanhei toda sua agonia durante a semana pós prova, pois ficou entrevado sem aguentar nem andar direito. Aquilo foi uma ducha de água fria em qualquer pretensão minha de participar de provas de corridas de rua, morria de rir dele comentando sua trágica experiência, e pude perceber que havia a necessidade de um treinamento específico, mas também não tinha noção que existiam provas com percursos menores às quais eu já conseguiria completar com êxito, e assim continuei correndo sem a necessidade de participar de provas, entretanto posso dizer que neste período de corrida de rua, não me preocupava com corridas, somente em correr. Hoje adepto das provas de corrida de rua, há pouco mais de um ano somente, já pude perceber que as corridas não custam baixo, correr é grátis, mas corrida não, caso você se empolgue e saia se inscrevendo em tudo que é divulgado, verá como “machuca o bolso”, são muitas corridas no mercado e como em qualquer negócio de empreendedorismo são criados para lucrar, desta forma aprendi a selecionar melhor minhas escolhas, não deixando as corridas e muito menos de correr. Mas no fundo o que aprendi com esta frase, foi que não devo me levar pelo mercado das corridas, obviamente é maravilhoso participar de uma prova bem organizada, passar pelo arco ao final da prova e receber uma linda medalha, porém é muito melhor a confraternização que há entre nós corredores, encontrar aquele amigo e receber um abraço, trotar conversando sobre a vida, tirar fotos, presenciar o nascer do sol, o pôr do sol, ver as arquiteturas de Deus, como praias e cenários lindos do nosso Brasil, nós em conjunto somos o grande astro, nós fazemos o show, nós que damos o espetáculo.
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